terça-feira, 7 de outubro de 2008

Um balanço parcial das eleições municipais


O novo mapa político advindo das eleições municipais só se consolidará com o segundo turno no dia 26. Dependendo dos resultados finais nas 29 cidades que retornarão às urnas – e que incluem pesos-pesados como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre –, a correlação de forças institucional ficará mais definida, assim como os desdobramentos para a sucessão presidencial em 2010. Mas já é possível fazer um balanço parcial, que destoa do coro orquestrado pelo bloco liberal-conservador e pelo grosso da sua mídia.

Por Altamiro Borges

Aparente calmaria e reeleição


Uma primeira marca do pleito foi a expressiva reeleição dos atuais governantes, o que deu certo tom de continuísmo ao embate. Dos 20 prefeitos de capitais que concorreram à reeleição, 13 venceram já no primeiro turno e os outros sete disputarão a nova rodada em boas condições.

Até governantes avaliados negativamente pelas pesquisas, como João Henrique (Salvador) e Serafim Correa (Manaus), demonstraram força na reta final da campanha. Mesmo Gilberto Kassab, do demo de São Paulo, deve sua surpreendente votação a este fenômeno nacional. Para efeito de comparação, em 2004, apenas cinco prefeitos foram reeleitos; este ano, nenhum foi derrotado até agora.

Este fenômeno deriva da situação de aparente calmaria no país, resultante do tímido crescimento da economia e da melhora de alguns índices sociais, com a queda do desemprego e o aumento da renda. Os bons ventos da economia elevaram a arrecadação e reforçaram o caixa das prefeituras, o que permitiu maiores investimentos em infra-estrutura e benfeitorias sociais. A receita corrente nas capitais atingiu a média de R$ 59,6 bilhões em 2007, contra R$ 41 bilhões em 2006. Muitas obras nas cidades ainda receberam investimentos federais, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Todos os prefeitos, inclusive tucanos e demos, surfaram nesta “onda Lula”.

Segundo vários analistas políticos, este cenário reforçou uma tendência conservadora do eleitorado, que prefere a segurança e não quer mexer no que está dando certo. “Aconteceu o que chamamos de efeito bem-estar, que favorece quem está no poder”, avalia o sociólogo Paulo Kramer. Tanto que as campanhas eleitorais priorizaram os temas administrativos, secundarizando o debate mais politizado. Até tucanos e demos raivosos, como o ACM Neto, famoso pela bravata de que daria uma “surra no presidente”, evitaram politizar a disputa e tentaram vender a imagem de “amigos de Lula”. Isto não salvou ACM da surra nas urnas. A vingança do eleitor foi maligna!


Derrota dos tucanos e demos


Apesar do fenômeno, nas cidades em que houve renovação no primeiro turno a oposição liberal-conservadora foi a maior derrotada. Tucanos e demos, como era natural, ainda tentam disfarçar o fiasco e contam com a ajuda da mídia, que amplifica a mentira do “empate”. Mas os números são taxativos.

O DEM-PFL perdeu 176 prefeituras – tinha 670 e ficou com 494. Ele viu sumirem quase 2 milhões de eleitores entre 2004-08. Nas capitais, demos famosos, como Cesar Maia e ACM Neto, foram rejeitados pelos eleitores. O partido foi o maior derrotado do pleito e agora aposta todas as suas fichas na capital paulista (onde funciona hoje como um tipo de sublegenda tucana), até como forma de evitar a sua extinção do mapa político.

O PSDB perdeu 109 prefeituras e 1,225 milhão de votos no período. Os tucanos ainda mantêm a sua hegemonia em São Paulo, principal laboratório e plataforma das idéias neoliberais, mas saiu fraturado do pleito. Após o vexame do primeiro turno na capital, no qual o candidato oficial do partido, Geraldo Alckmin, foi cristianizado, tenta colar os cacos para viabilizar o demo Kassab. No Rio de Janeiro, aposta no verde-tucano Fernando Gabeira. A eleição também acirrou a briga entre os presidenciáveis José Serra e Aécio Neves. Já o PPS, sob a trágica batuta oposicionista de Roberto Freire, também encolheu, perdendo 70 prefeituras e 2.151milhões de eleitores.


Crescimento do PT e dos aliados


No extremo oposto, a eleição municipal presenciou o consistente crescimento do PT e das forças de esquerda da base de sustentação do atual governo. O partido do presidente Lula, por motivos óbvios, foi o principal beneficiário da sua crescente popularidade e dos bons ventos na economia. Sai da eleição como recordista no aumento do número de prefeitos: tinha 391 e elegeu 548. Nas 26 capitais e nas 53 cidades com mais de 200 mil habitantes, o chamado G-79 – que reúne quase 47 milhões de votantes, o equivalente a 36,4% do eleitorado brasileiro –, o partido também foi o maior vencedor: ganhou em 13 cidades e disputará o segundo turno em outras 15.

PCdoB, PSB e PDT, que formam o “bloco de esquerda”, também obtiveram expressivas vitórias. Os comunistas, que adotaram uma postura eleitoral mais ousada, superando a tática da coligação-concentração, conquistaram 39 prefeituras: em 2004, o partido elegeu 10 prefeitos; outros nove ingressaram posteriormente. Já o PSB elegeu 309 governantes; tinha 214; e o PDT pulou de 311 para 344. O bom desempenho dá maior musculatura ao Bloco de Esquerda na sua relação com o PT e o governo Lula. A vitória deste campo só não foi maior devido a alguns erros grosseiros, como os que resultaram do hegemonismo do PT nas eleições do Rio de Janeiro e Florianópolis.


Centro como fiel da balança


Outra marca do primeiro turno foi o crescimento das forças políticas mais de centro, que passam a jogar um papel ainda mais decisivo, de fiel da balança, no processo da sucessão presidencial. O PMDB, uma frente partidária que reúne desde aliados fiéis até adversários ferrenhos do governo Lula, elegeu 1.194 prefeitos, 134 a mais do que em 2004. E o partido com o maior número de prefeituras no país. Já o PTB e outros partidos centristas da eclética base de apoio do governo também se deram bem nas urnas, aumentando seu número de prefeituras e vereadores.

Este balanço parcial, como já foi dito, só poderá ser concluido com o resultado das eleições no segundo turno. Uma vitória do demo Gilberto Kassab em São Paulo, devido ao peso político e econômico desta capital, embaralha todo o quadro da correlação de forças. Será encarada como um forte impulso da candidatura presidencial do tucano José Serra, além de ressuscitar o falido DEM-PFL. Já a vitória das esquerdas em Salvador e Porto Alegre terá efeito inverso. Nos casos do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, o quadro é mais complicado e exige meticulosa reflexão.


Fonte: vermelho.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário