Pesquisas desenvolvidas no Brasil e na Inglaterra indicam que o consumidor tem papel fundamental na sustentabilidade e seu comportamento tende a influenciar as políticas públicas locais
A idéia de que apenas as grandes empresas são responsáveis pelo aquecimento global ainda persiste no mundo inteiro, mas, em paralelo, cresce a consciência de que o poder do consumidor consciente é decisivo para garantir a sustentabilidade.
Na Inglaterra, uma pesquisa encomendada pela Confederação das Indústrias Britânicas (CBI, sigla em inglês) à empresa de consultoria McKinsey, revelou que 60% das emissões são controladas ou influenciadas pelos consumidores. O novo dado obrigou as entidades locais a repensar e reformular as políticas traçadas para atingir a meta do governo britânico de 60% de redução, em relação aos níveis de 1990, das emissões de gases de efeito estufa até 2050.
“O dado mudou substancialmente a perspectiva de ações que o país vinha seguindo. O foco principal agora é o consumidor. É sobre ele que o setor privado e o governo precisam trabalhar para garantir a sustentabilidade”, afirmou Martin Broughton, presidente da CBI, que no dia 2 de setembro, presidiu o lançamento no Brasil do relatório “Mudanças climáticas: um assunto de todos”.
Broughton afirmou que, na Inglaterra, cresce o número de indústrias sustentáveis, além de outras que demonstram interesse em se tornar ambientalmente corretas. Ainda assim, insistiu que ainda é grande o número das que ainda estão longe dessa realidade. “Percebemos que pela demanda, ou seja, se o consumidor escolher empresas ambientalmente responsáveis para comprar, a humanidade estará garantindo uma economia de carbono limpo”, garantiu.
A CBI reúne algumas das maiores empresas britânicas, entre elas, a BP, a Shell e a British Airways. Juntas elas emitem cerca de 370 milhões de toneladas de CO2 por ano e empregam quase 2 milhões de pessoas ao redor do mundo, gerando uma receita anual equivalente a três trilhões de reais. “Os números da CBI já são consideráveis para pensarmos em resultados expressivos, mas queremos ir mais longe, conscientizando mais pessoas”, afirmou Broughton.
Segundo o relatório, 35% das emissões são controladas diretamente pelo consumidor, seja no aquecimento das casas, no uso de automóveis particulares e outros meios de transporte e no consumo de energia elétrica em domicílios. O varejo, alimentação e bebidas, atacado e a agricultura representam 25% das emissões. Os restantes 40% dos gases são emitidos na fabricação de bens, mineração de carvão e transporte de carga.
Brasil
O relatório britânico não revela números da conscientização dos consumidores ingleses, mas no Brasil, um número considerável de pessoas tem em um nível elevado de consciência dos impactos na hora de fazer suas escolhas de consumo. A pesquisa “Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente?”, divulgada pelo Akatu em março de 2007, revela que um em cada três brasileiros percebe os impactos coletivos ou de longo prazo nas decisões de consumo. Segundo o estudo, cresceu em 7 pontos percentuais – de 36% em 2005 para 43% em 2006 – a proporção de consumidores que usam seu poder de compra e de comunicação para premiar empresas que tenham práticas adequadas de responsabilidade social e ambiental.
Para José Augusto Coelho Fernandes, diretor executivo da Confederação Nacional das Indústrias, apesar de realidades diferentes (no Brasil, 45% da energia é renovável e na União Européia, apenas 20%) através do relatório “é possível verificar a existência de pontos de ação em comum, como a internalização de medidas de sustentabilidade no DNA do ciclo produtivo das empresas e a educação da comunidade”.
Políticas Públicas no Brasil
É com base no reconhecimento do papel determinante do consumidor na preservação do planeta que uma parceria entre organizações brasileiras que trabalham em defesa da sustentabilidade realizou até 20 de setembro, uma consulta à sociedade civil com o objetivo de angariar contribuições para a formulação de uma Política Nacional de Mudanças Climáticas a ser apresentada ao Congresso Nacional em novembro próximo. Segundo o ambientalista Fábio Feldmann, membro do Conselho Consultivo do Instituto Akatu e um dos integrantes da parceria, “não se trata de um projeto de lei, já que existe um processo em curso no Congresso Nacional, mas da construção de um documento que possa contribuir para este processo, com inovações e sugestões provenientes da sociedade civil organizada”.
Para Feldmann, um dos grandes diferenciais da iniciativa é a sua forte aposta em medidas de adaptação, ou seja, o projeto pretende exigir do governo respostas concretas e permanentes, em forma de lei, para os brasileiros que já estão sofrendo efeitos diretos das mudanças climáticas. “Precisamos criar um mecanismo legal para cobrar do governo a eficiência nas áreas de defesa civil, por exemplo, ou a assistência de reparação de prejuízos econômicos e sociais decorrentes das mudanças climáticas”, afirmou.
Idéias e sugestões podem ser enviadas por meio do Observatório do Clima (www.oc.org.br).
www.akatu.com.br
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