Enganam-se os que atribuem apenas aos dois PMs a responsabilidade pelo absurdo assassinato do menino João. As imagens reveladas pelo jornal O Dia não mostram, mas, naquela rua,escondidas atrás de postes, armadas, havia muitas outras pessoas. Gente que encontramos nas ruas, no trabalho, em palácios legislativos e de governo.
Pessoas que forjaram sua cumplicidade com incontáveis crimes, que sempre defendem a violência policial e o desrespeito à civilidade e à lei, que enchem a boca para dizer que na nossa sociedade só há direitos humanos para bandidos.
Pessoas que não se cansam de alardear que policiais têm direito de matar. Que nunca se curvaram a uma realidade óbvia: nos últimos anos, a polícia matou como nunca e a criminalidade não parou de crescer.
Estas pessoas – desculpe leitor se você é uma delas – nunca conseguiram atentar para algumas questões: 1. policial que pode matar pode também cometer qualquer outro tipo de crime e ter quase certeza de impunidade; 2. policial que pode matar supostos bandidos pode matar qualquer um de nós.Só há um jeito de impedir que matem inocentes: é impedir que eles matem qualquer um.
O menino João é apenas mais uma vítima da política que, para a alegria de tantos governantes, joga para fuzis e pistolas a solução de graves problemas econômicos, sociais e , claro, de segurança pública.
Os que defenderam o direito de a polícia atirar primeiro e perguntar depois devem, agora apresentar-se à delegacia que investiga o assassinato de João e declararem-se cúmplices dos dois PMs cujo comportamento tanto estimularam. Todos ajudaram a apertar os gatilhos das armas daqueles policiais.
Fernando Molica - O Dia 9/07/08
quinta-feira, 10 de julho de 2008
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