quarta-feira, 29 de abril de 2009

Banco Central reduz taxa de juros para 10,25% ao ano


Banco Central anunciou o corte da taxa Selic em um ponto porcentual, para 10,25% ao ano, sem viés. Com a decisão, a autoridade monetária reduziu o ritmo do desaperto dos juros, que haviam caído 1,50 ponto na decisão anterior, em março. A medida do Comitê de Política Monetária (Copom), tomada por unanimidade, levou o juro básico da economia brasileira para o menor patamar da história. Em comunicado divulgado após a reunião, a autoridade monetária explicou que o corte visa "ampliar o processo de distensão monetária" que começou

Com o terceiro corte seguido, a taxa Selic cai para o menor nível desde a adoção do juro básico da economia em base anual, no fim de 1997.

Nesse período(FHC), o Brasil conviveu com juros que chegaram a 45%, em março de 1999 após a maxidesvalorização do real no início daquele ano.

A decisão desta quarta-feira, 29, também fez o Brasil perder o amargo posto de país com o maior juro real do planeta - taxa descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses. Levantamento da UpTrend Consultoria mostra que a taxa brasileira caiu para 5,8%, abaixo da China que tem juro real de 6,6% e Turquia, com 6,4%.

Minutos após a decisão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o BC está na direção correta. "Toda a vez que a Selic cai, eu fico feliz. Está na direção correta".

BB e Caixa também anunciam redução de juros

O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram a redução de suas taxas de juros praticadas em diversas linhas de crédito destinadas às pessoas físicas e jurídicas, após a decisão do Banco Central de reduzir em 1 ponto porcentual a taxa Selic. As novas taxas passam a valer a partir de segunda-feira (4 de maio).

No BB, foram reduzidas as taxas nas seguintes linhas:

- crédito destinado às empresas - redução no BB Giro Rápido, linha principal direcionada às Micro e Pequenas Empresas, cujas taxas mínimas passaram de 2,14% ao mês para 2,11% ao mês e as máximas de 2,40% ao mês para 2,37% ao mês;

- crédito consignado/trabalhadores - taxas partir de 1,36% ao mês no crédito consignado.

- crédito consignado/aposentados e pensionistas do INSS - entre 1,64% a 2,07% a.m.

- financiamento de bens de consumo(eletrodomésticos - linha branca), cuja taxa mínima passou de 2,62% para 1,99% a.m.

- material de construção - a partir de 1,74% a.m.

- cheque especial - as taxas foram ficam entre 1,33% ao mês, 7,77% a.m. para pessoa física.

- cartões Ourocard - terão suas taxas reduzidas em duas modalidades: no crédito rotativo (taxa mínima) de 3,71% a.m. para 3,63% a.m. e nas compras parceladas em até 24 meses de 2,62% a.m. para 2,44% a.m.

Caixa

A Caixa Econômica Federal reduziu os juros cobrados em 26 modalidades de crédito para pessoas físicas e jurídicas. Para pessoas físicas, a taxa do penhor registrou queda de 2,25% para 2,10% ao mês. O crédito para compra de veículos teve sua taxa máxima diminuída de 2,4% para 2,3% ao mês. No caso do crédito pessoal, a taxa mínima foi reduzida de 4,01% para 3,85% e a máxima, de 4,46% para 4,31% ao mês. A taxa máxima de juros do cheque especial passou de 6,83% para 6,79% ao mês.

Para empresas de micro e pequeno porte, o banco reduziu os juros de sete modalidades, entre elas crédito para capital de giro, desconto de duplicatas e cheque empresa. Na operação de antecipação de recebíveis, houve redução de até 3,27% sobre a taxa mensal. As taxas de juros do cartão de crédito rotativo pessoa jurídica foram reduzidas em até 16% - a CEF não informou as taxas dessas modalidades, apenas o tamanho da queda. (Agência Estado)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A saga do álcool


Há 30 anos, chegava ao mercado brasileiro o carro 100% movido a álcool pelo combustível extraído da cana. Hoje o mundo exalta a descoberta brasileira. Por Cynara Menezes



Era o ano da anistia e o rádio dos carros tocava sem parar O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, na voz de Elis Regina. Aqueles tempos jurássicos em que se exilava, torturava e matava cidadãos por discordar do governo e se tocavam fitas cassete e LPs ficariam marcados por uma inovação tecnológica que só agora está sendo valorizada com total justiça. Há 30 anos, chegava ao mercado a primeira fornada de carros movidos a álcool, embriões dos automóveis bicombustíveis que revolucionariam a indústria automobilística mundial naquela década.

No princípio foi um Fiat 147. O carrinho de design avançado para a época e que virou objeto de culto tinha feito sucesso em sua supereconômica versão a gasolina. No comercial de lançamento, em 1976, um 147 branco humilhou a concorrência ao percorrer os 14 quilômetros da Ponte Rio-Niterói com apenas 3/4 de litro. Embora nunca tenha tido idêntica performance, o modelo a álcool causou sensação ao ser lançado, em julho de 1979, como prova de que o combustível alternativo promovido pelo governo poderia dar certo comercialmente.

E deu. Em 1986, no auge do programa, dois terços dos carros zero no País eram movidos a álcool. Só foram desacelerar e, por fim, desaparecer no início dos 90, por uma combinação de sabotagem dos usineiros, desinteresse das montadoras e má vontade governamental. Ainda hoje, os pioneiros do Proálcool (Programa Nacional do Álcool) e especialistas no assunto defendem que, mais bem regulado e com os avanços tecnológicos atuais, o carro inteiramente a álcool seria superior ao flex em termos econõmicos e ambientais.

Foi uma longa estrada até o primeiro carro a álcool chegar às concessionárias. As pesquisas oficiais utilizando o subproduto da cana-de-açúcar como combustível começaram em novembro de 1975 com a implantação do Proálcool, mas o pioneirismo brasileiro no setor remonta a 1914, no governo Venceslau Brás. Naquele ano, João Pandiá Calógeras, então ministro da Agricultura, Comércio e Indústria, estudou a substituição da gasolina pelo álcool, diante dos problemas de abastecimento causados pela Primeira Grande Guerra. Dez anos depois, um Ford participaria de uma corrida no Circuito da Gávea, no Rio, tornando-se, provavelmente, o primeiro veículo movido a álcool da história.

A preocupação governamental com o combustível sempre foi o motor das pesquisas. Em 1922, o presidente Epitácio Pessoa criticava a excessiva importação de gasolina e, a partir de 1930, no governo Getúlio Vargas, o País passou a ter uma política de adição do álcool ao combustível, na proporção de 5%, que chegaria a 20%, em 1952, em alguns estados produtores. Vargas também criaria um importante mecanismo de controle governamental, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), em 1933, extinto pelo presidente Fernando Collor em 1990.

Meio esquecido na era pós-Vargas, o tema do álcool voltou à baila com a crise internacional do petróleo, em 1973. “Compusemos grupos de trabalho e vimos que era preciso substituir o petróleo, um bem não renovável que demora centenas de milhões de anos para se formar, por uma energia renovável”, conta o físico José Walter Bautista Vidal, secretário de Tecnologia Industrial do governo Ernesto Geisel e um dos idealizadores do Proálcool. “Fizemos vários testes e verificamos que o álcool era mais potente que a gasolina e não era poluidor. Além disso, temos terra em abundância, muita água e o sol, que favorece a fotossíntese da planta.”

É pela fotossíntese que as plantas transformam a energia eletromagnética do sol em energias líquidas: os álcoois e óleos vegetais. Para Bautista Vidal, o fato de o sol iluminar principalmente o continente tropical deixa o Brasil em situação privilegiada na fabricação de combustíveis alternativos. “Somos o paraíso da energia. Os países dominantes estão em regiões temperadas e frias, são fracos em energia. Por isso tiveram de adotar o petróleo como combustível. Nós não precisamos nos preocupar com a escassez de petróleo, porque nosso problema energético está resolvido”, aposta.

Vidal convidaria para chefiar a equipe de pesquisadores do programa, sediada no Centro Técnico Aerospacial (CTA) da Aeronáutica, em São José dos Campos, o engenheiro Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), considerado o pai do motor a álcool no Brasil. Cerca de 160 pessoas, de idades e perfis variados, atuaram nas pesquisas, inclusive engenheiros mecânicos das fábricas de automóveis, que foram convocados pelo governo para o projeto com cobertura de salários.

Com Stumpf à frente, um dos primeiros experimentos do grupo foi misturar o álcool anidro à gasolina e verificar a proporção ideal para fazer o carro rodar sem que fosse preciso mexer no motor: 10%, que o governo militar logo adotou nos postos de abastecimento. Ao mesmo tempo, o CTA desenvolvia um motor inteiramente a álcool. Em princípio, entre as fabricantes, só a Chrysler se interessou pelo programa, graças a um engenheiro do grupo, Clovis Michelan, que tinha sido aluno de Stumpf.

O primeiro veículo a rodar com álcool, um Dodge 1800 verde, era o “Dodginho” particular de Michelan. Os problemas rapidamente apareceram. Por exemplo, o carro engasgava, falhava. A famosa falha na partida a frio, principalmente de manhã cedo, que mais tarde faria o slogan criado para o programa, “Carro a álcool: um dia você vai ter um”, virar “Carro a álcool: um dia você vai empurrar um”, na boca do povo. O problema só iria acabar definitivamente em 1981, com o Corcel II, da Ford, considerado o automóvel que revolucionou os veículos a álcool ao automatizar o sistema de partida com sensores inteligentes.

Outras inovações da Ford foram em relação à corrosão que o álcool era acusado de promover no motor: passou-se a usar níquel para proteger os carburadores e bombas de combustível, o tanque foi revestido e colocaram-se filtros mais resistentes. “Antes, as borrachas e o tanque, feito de aço, sem tratamento, corroíam. O pior eram os carburadores, feitos de Zamak, uma liga de zinco e estanho que não possuía a menor resistência ao álcool”, diz o engenheiro mecânico Sergio Figueiredo, autor de uma tese de mestrado sobre o Proálcool, apresentada na Universidade de Brasília em 2006.

“Nenhum carro a álcool antes do Corcel II, em 1981, era bom. O álcool formava uns floquinhos brancos que entupiam o carburador e faziam o carro parar o tempo todo. Daí a fama de que precisava ser empurrado”, ri Figueiredo. “Mas esses problemas eram sabidos, os pesquisadores do CTA e do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) os tornavam públicos. As montadoras não resolviam porque não tinham interesse no carro a álcool, em aperfeiçoar uma linha de produção no Brasil com componentes diferentes do resto do mundo.”

Integrante da equipe de Stumpf no CTA, o engenheiro mecânico Paulo Ewald conta que os problemas eram, muitas vezes, prosaicos. Após testar o primeiro “Dodginho”, uma caravana de três veículos percorreu 8,5 mil quilômetros Brasil afora, para demonstrar que o negócio funcionava mesmo – outro Dodge, desta vez zerinho, cedido pela Chrysler (ainda hoje em exposição no Museu Aeroespacial Brasileiro), um Fusca 1300 comprado e um Gurgel Xavante emprestado. Aliás, não se sabe o porquê, mas, em princípio um entusiasta do álcool, o engenheiro João Amaral Gurgel, morto em janeiro, se tornaria mais tarde um inimigo ferrenho do combustível e não quis utilizá-lo no BR-800, seu carro nacional.

Quando, na etapa seguinte do projeto, veículos da frota das empresas estatais foram convertidos ao álcool, volta e meia surgia um caso pitoresco envolvendo principalmente os Fusca utilizados pela Telesp. “Às vezes é esquecido o papel que os Fusquinha laranja e azuis da Telesp desempenharam na pesquisa do motor a álcool. Como eram 400 dos 731 carros convertidos, além de fazer uma propaganda danada, serviram para testar cada defeito do veículo em escala”, lembra Ewald.

Um problema comum nos Fusca 1300 utilizados pela companhia telefônica era queimar a bobina. Os pesquisadores do CTA foram investigar e descobriram que o carrinho rodava com duas pessoas: o técnico e o motorista. Enquanto o técnico ia efetuar o conserto, o condutor permanecia no veículo, ouvindo rádio, com o motor funcionando. Por isso a bobina queimava. A solução foi desvincular o rádio da ignição.

Outra história curiosa diz respeito ao carburador, que vivia sujo. Alguém descobriu que o ácido acético era capaz de efetuar a limpeza, mas, ao colocar o carburador de molho na solução, só saiu o esqueleto. O ácido corroeu tudo. Os engenheiros foram testando a diluição do ácido em água até chegar à solução ideal: 5%. Um belo dia, um mecânico da Telesp trouxe a novidade: “Gente, ácido acético a 5% é vinagre”. Daí por diante, passou-se a limpar o carburador com vinagre.

Com o tempo, a tecnologia foi melhorando em favor do álcool e tornando possível o caminho para se chegar ao flex. Os tanques passaram a ser de plástico resistente ao álcool. Tubulações, idem, assim como os coletores. E os filtros são muito mais eficientes do que na década de 80, quando o combustível estava a toda. Para se ter uma ideia, os primeiros filtros usados pela GM nos motores a álcool chegaram a dissolver.

“Foram várias as evoluções tecnológicas. Atualmente são aplicados materiais que garantem a durabilidade do motor por toda a vida”, informa o engenheiro Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da pioneira Fiat. Infelizmente, o carro a álcool não sobreviveu para aproveitar as mudanças. Em 1989, houve uma grande crise no setor, quando faltou álcool nas bombas a ponto de ser substituído pelo similar metanol. A diferença é que o etanol possui duas moléculas de carbono em sua fórmula, e o metanol, apenas uma, o que o torna perigoso ao contato humano. “O etanol é praticamente igual à cachaça, é incolor, insípido. O metanol, não, é venenoso”, explica o professor Bautista Vidal.

A troca causou polêmica e proporcionou uma confusão tragicômica. Ministro da Indústria e Comércio de José Sarney, o ex-deputado federal Roberto Cardoso Alves (1927-1996), criador da célebre e triste frase “é dando que se recebe”, vivia às voltas, em entrevistas, com questionamentos sobre o metanol. Repórteres queriam saber o que aconteceria se alguém colocasse o combustível na boca, e Robertão saiu-se com essa: “Ora, não se pode confundir metanol com Cepacol!”

Piadas à parte, logo depois, ao assumir a Presidência, Collor, que já havia chamado os carros brasileiros de “carroças”, assinaria o atestado de óbito do automóvel a álcool ao extinguir o IAA e pôr fim aos subsídios. Tinha razão em cortar os fabulosos subsídios que enriqueciam os usineiros e mascaravam o preço do álcool: sem eles, a gasolina custaria cinco vezes menos que o combustível de cana. Mas deixou à deriva 4 milhões de proprietários dos carros a álcool, que pararam de ser produzidos em 1990. Com eles, também acabam as pesquisas feitas aqui em termos de motor exclusivo.

“É uma pena, porque o álcool é o único caso de inovação tecnológica desenvolvido e difundido inteiramente no Brasil”, diz Figueiredo. “Voamos num avião a álcool em 1985 e paramos de pesquisar. Também tínhamos desenvolvido protótipos de motores pesados, como caminhões e ônibus, como alternativa ao diesel. Talvez hoje estivéssemos ensinando para o mundo”, lamenta o engenheiro Paulo Ewald. Foi-se o carro a álcool, veio o flex, propagandeado pelo presidente Lula na visita que fez a Barack Obama na Casa Branca, em março – Obama já possui um.

No Brasil, o primeiro carro bicombustível foi lançado em 2003, o Gol Power 1.6, da Volkswagen. Hoje, os carros movidos simultaneamente a álcool e a gasolina representam 10% da frota de automóveis do País. Representaram quase 90% dos carros novos vendidos no mês passado. O flex teve o mérito inegável de tirar o álcool, agora com o nome oficial de “etanol”, do limbo das boas ideias governamentais fracassadas e da memória dos saudosistas para torná-lo de novo o combustível do futuro.



cartacapital

Lula e Cristina contornam diferenças e reforçam laços


Em coletiva após se reunirem em Olivos, Buenos Aires, a residente argentina Cristina Kirchner disse que "ter opiniões diferentes nnao é ter más relações". O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva sustentou que "cada vez que surge um problema vamos encontrar uma solução". O encontro avançou no planejamento de obras comuns de infraestrutura, como a represa de Garabi, e os dois governantes disseram esperar uma nova relação com os Estados Unidos de Barack Obama.



A hidrelétrica de Garabi é uma das cinco que o governo brasileiro planeja construir em parceria, três com a Argentina e duas com a Bolívia. Com um custo total de R$ 30 bilhões, elas devem gerar 10 mil megawatts, mais que a metade da produção de Itaipu, a maior usina brasileira, em parceria com o Paraguai.


Fábrica reestatizada fornecerá à Embraer


Lula e Cristina chegaram também a um acordo para que a Argentina fabrique e forneça à brasileira Embraer peças de avião numa fábrica militar em Córdoba, a 600 km da fronteira com o Brasil, que está em processo de reestatização.

"Estou feliz com que a Argentina recupere a indústria de aviação" nacional, afirmou Lula em referência à fábrica de Córdoba, que voltará ao controle estatal após ficar uma década nas mãos da americana Lockheed Martin.

A Argentina registrou em 2008 um déficit de US$ 4,344 bilhões com o Brasil. Em março, pela primeira vez em nove meses, a balança comercial favoreceu o lado argentino, porém em um cenário de forte retração do volume do comércio bilateral em consequência da crise global.


"A crise internacional obriga"


Na entrevista, Lula tratou de desinflar as perguntas sobre tensões bilaterais devido às barreiras comerciais criadas pela Argentina para defender o mercado interno de trabalho.

Cristina, por sua vez, negou que a Argentina tenha tomado medidas protecionistas. Ela advertiu que a política de seu governo "nada tem a ver com o protecionismo na relação comercial, mas está voltada a dar resposta às necessidades das empresas e trabalhadores".

"A crise internacional obriga todos os países a disporem de medidas que têm a ver não com a proteção ou o protecionismo como uma deformação do intercâmbio comercial, e sim para dar uma resposta concreta às suas sociedades", disse ela.
Segundo a presidente argentina, o protecionismo "não é apenas uma questão alfandegária". Ela argumentou que "quando um país faz uma desvalorização de sua moeda, está fazendo protecionismo, o mesmo acontecendo quando concede um benefício fiscal a determinado setor".

Este foi o terceiro encontro entre Lula e Cristina Kirchner, que tomou posse há 17 meses, como parte do Mecanismo de Integração e Coordenação Bilateral Brasil-Argentina. O Mecanismo, como é chamado, contempla a execução de obras de infraestrutura e de cooperação para o desenvolvimento de ambos os países. O quarto encontro já está marcado para em Brasília, no dia 18 de novembro.



vermelho.org

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Padilha: 'Garapa' defende Bolsa Família e irrita Ali Kamel

O diretor de Tropa de Elite e Ônibus 174, José Padilha, acaba de lançar no festival "É Tudo Verdade" seu mais recente documentário, Garapa, que aborda a fome crônica. O filme acompanha a rotina de três famílias do Ceará que estão, segundo conceito da ONU, em situação de insegurança alimentar grave ou, nas palavras de Padilha, fome crônica. O tema já é polêmico por si só, mas o jornalista Ali Kamel esquentou ainda mais.



Em artigo publicado em O Globo, ele contesta Garapa e Padilha em referência ao programa do governo Bolsa Família. Segundo Kamel, essa não é a solução do problema da fome, pois "a enorme abrangência do programa pode ser contraproducente". Outra crítica do jornalista se refere à pesquisa do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) feita entre beneficiados do Bolsa Família para verificar a segurança alimentar. Para ele, a pesquisa é falha e não detalha com precisão o problema. Kamel defende ainda que os recursos seriam melhores aproveitados se investidos na educação.

Em resposta, o cineasta escreveu que “o Bolsa Família é um programa de simples execução e de retorno humanitário rápido. Quem defende a alocação de parte dos seus recursos em educação precisa especificar um projeto educacional e demonstrar que tanto o projeto quanto seu executor serão eficientes a ponto de compensar rapidamente a perda de receita de quem ficou de fora do programa. E precisa detalhar o impacto que essa perda terá na vida dos excluídos.” Em entrevista à edição deste mês da revista Bravo, Padilha explicita a antiga polêmica.

- Confira a seguir a íntegra da entrevista com o cineasta:
Como foi sua volta ao documentário depois do grande êxito de Tropa de Elite? Por que você voltou ao gênero?

Padilha - Na verdade eu não voltei porque nunca saí. Filmei o Garapa e o Tropa de Elite juntos, e enquanto filmava os dois eu ainda estava com um outro documentário sobre antropologia, o Povos Selvagens (filme trata da exploração dos índios Yanomami por antropólogos americanos e franceses), que está hoje na ilha de montagem.

Você começou com Ônibus 174, um retrato da violência urbana no Rio de Janeiro. Tropa de Elite, dentro do campo da ficção, também trata da violência, a violência da polícia. Você volta agora com Garapa a tratar de uma mazela social, o problema da fome. Em um artigo, o diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo de Televisão, Ali Kamel, contesta o seu filme. Como você analisa mais essa polêmica criada por um filme seu?

Padilha - A fome é um problema social seríssimo. O Garapa lida com um problema que é muito maior que os problemas que eu lido no Ônibus 174, no Tropa de Elite. Não estou falando que o problema da violência seja pequeno, é enorme. Mas Garapa lida com a fome crônica, algo que existe em todos os países. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), são mais de 910 milhões de pessoas no mundo passando fome. Para ser bem preciso, sofrendo de insegurança alimentar grave, que é um conceito da ONU.

Agora, a forma pela qual o Estado lida com os pequenos criminosos, os meninos de rua também é um problema social grave. A forma que a polícia trata os policiais, o mau salário, o alto risco a periculosidade, o treinamento que torna o policial uma pessoa violenta também são problemas sociais. Todos esses filmes lidam com problemas sociais, então não têm uma descontinuidade temática. O que o Garapa faz - e os outros não fazem - é lidar com um problema mais universal.

O Ali Kamel não tinha visto o meu filme quando fez o artigo, então o Garapa era um mote. O artigo era essencialmente sobre uma pesquisa do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), sobre os números da desnutrição dentro do universo do Fome Zero. O Ibase tinha mensurado que 11 milhões de brasileiros ainda estavam na categoria de insegurança alimentar grave, que para o Ibase, para mim e para quase todos os países do mundo significa passar fome crônica. O que o Ali Kamel contesta é que o conceito de insegurança alimentar grave não é uma boa medida para a desnutrição e para a fome crônica. O artigo não era sobre o meu filme, era sobre a pesquisa. Eu respondi com o Francisco Menezes e ficou esse debate. Mas eu não acho que o Ali Kamel seja mal- intencionado, a gente só discorda. Ele propõe uma realocação dos recursos do Fome Zero e do Bolsa Família para a educação. O que falta dizer é que problema de educação é esse, porque o Bolsa Família é um programa muito fácil de operar: você transfere o dinheiro para a família e ela compra comida ou o que ela quiser, mas prioritariamente, pelo que eu vi, comida. O problema de educação é muito complexo e o governo brasileiro não tem se demonstrado muito eficiente nos seus programas educacionais, então o Ali Kamel precisa detalhar que programa educacional é esse, quem vai operar esse programa, como funciona, porque vai abarcar um universo grande. Por que não a verba de publicidade do governo, ou parte dela, que é 10% do Bolsa Família, ou outras verbas? Então eu não entendi bem a posição dele, mas foi um artigo respeitoso.

Como você vê o Programa Bolsa Família?

Padilha - Existe um debate importante do Bolsa Família. É uma quantidade, que não é significativa no contexto do orçamento geral da União, mas é uma quantidade razoável de dinheiro - R$ 12 bi, R$ 10 bi por ano. Eu acredito nos números do Ibase e acho que o programa Bolsa Família necessário; o Ali Kamel não. Eu acho que seria temerário realocar os recursos num programa de educação, sobretudo num programa muito vagamente ou sequer especificado. Muitas famílias dependem do programa para sobreviver. Eu filmei uma família que sobrevivia com ele por 12 dias e pelo resto do mês as crianças comiam açúcar. Eu não li a estatística só. A estatística é importante, fundamental, mas você tem que ver. Eu escuto gente falando 'Ah, o cara comprou um eletrodoméstico com o dinheiro do Bolsa Família', mas o cara não tem geladeira, não consegue nem conservar a carne, o leite. E também essa ideia de que você só mede a desnutrição pesando as pessoas, que é mais ou menos a proposta, pelo que eu entendi, do artigo do Ali Kamel é assim, por exemplo, no Cerro Corá, uma favela do Rio, todo dia se você for lá de manhã você vai ver quatro ou cinco senhoras obesas que descem o morro, metem a mão no lixo, catam açúcar, farinha e comem esse troço. As famílias que eu filmei comem açúcar de colher. Então essas pessoas ficam obesas e desnutridas. Existe um conceito que abre o filme do Josué de Castro da fome parcial, que não é a ausência total de alimentos, mas a ausência de nutrientes fundamentais para o desenvolvimento de uma criança. Se você não garantir a base biológica nutricional da criança, como você vai educá-la? Discordo educadamente, mas discordo da posição do Ali Kamel em relação a isso. O artigo atribuía ao filme o que ele não faz. O filme mostra a fome do ponto de vista que quem passa fome.

Outro aspecto do Bolsa Família que é relevante falar é que ele é muito criticado por ser um programa que transfere renda, e é mesmo. O governo arrecada imposto e transfere a renda para pessoas que ele classificou como sendo mais pobres. Por isso, dizem que tem um viés eleitoral. Pode ser que tenha, pode ser que o cara que recebe aquela renda vote no político que ele acha que melhorou a vida dele - e de fato melhorou -, que faz parte do raciocínio democrático. Agora eu quero lembrar que o Brasil teve um programa mais eficiente e muito mais volumoso que o Bolsa Família, que mexeu com muito mais dinheiro que 10, 12 milhões de reais, que foi a inflação e as altas taxas de juros praticadas pelo governo durante anos e até hoje. Elas transferiram dinheiro dos mais pobres pros mais ricos, essas pessoas enriqueceram muito e influenciaram na política brasileira muito mais que a classe que recebe Bolsa Família. Influenciaram fazendo caixa de campanha, ajudando seus pares. Então, como é que o programa de transferência de renda agora está mudando a eleição? E antes? Por que ninguém falou desse fenômeno que acontecia antes? Só por que era no sentido contrário? É uma questão que eu coloco aqui."

Por que você optou pelo preto e branco e pela forte granulação em seu filme?

Padilha - Eu não optei pela imagem granulada, foram as condições de luz que optaram por ela. Mas as pessoas imaginam erradamente que o diretor de cinema tem uma opção, que ele pode captar as coisas de maneira completamente fidedigna ou não. Quis fazer um filme em que o espectador sentasse na sala de cinema e logo de cara visse que era um filme sobre a falta. Ausência de comida, de roupa. Aqueles personagens têm uma grande sensação de falta. Eu optei esteticamente por retirar coisas que o público está acostumando a ver no cinema. Então, não tem dolby surround, o som é mono; não tem fusão, é tudo corte seco; não tem música nenhuma; o filme é quase todo com lente fixa e não tem cor. Poderia fazer um filme a cores e ser completamente fora da realidade, e alguém talvez não falasse nada. Também, essa ideia de que a arte representa bem quando é fidedigna é muito inocente. Acho que o problema da arte não é o problema da representação fidedigna. É o problema da expressão e eu fiz a opção estética que achei que exprimia melhor o que eu vi.
Você está com outro filme no gatilho, Nunca antes na história deste país.

Padilha - É um filme sobre o processo eleitoral no Brasil, financiamento dos partidos. É sobre corrupção. Como é o processo eleitoral, fala um pouco também sobre essa transferência de renda dos pobres pros ricos e depois como essa renda entra no mundo político. O antropólogo Luiz Eduardo Soares é o autor do roteiro. É muito bom e eu estou animado para fazer.
Como você enxerga essa questão que parece ter tomado conta do cinema autoral hoje, no qual a realidade e a ficção estão tão imbrincadas? Pergunto isso porque foi a partir de Ônibus 174 que o Bruno Barreto resolveu filmar a história do Sandro, Parada 174. E foi a partir de Notícias de uma Guerra Particular que você fez o Tropa de Elite.

Padilha - Eu só fiz um filme de ficção e um número razoável de documentários (foram seis ao todo), então me sinto mais à vontade para falar de documentário. O cinema de documentário sempre teve uma tradição de engajamento social. A ficção pode ser a representação de um aspecto da realidade, o Tropa de Elite é assim, como Cidade de Deus e Carandiru. E não só no cinema brasileiro, tem o Platoon (filme de 1986 com Charlie Sheen, no qual interpreta um recruta voluntário do Vietnã que perde a inocência ao adentrar o universo da guerra), por exemplo. É uma coisa muito comum no cinema. Eu me interesso por esse tipo de filme, não me interesso por fazer filmes totalmente deslocados da realidade. Não faria Star Wars! Não existe o Luck Skywalker, ai já me atrapalho (risos).

Assim como Tropa de Elite, E Se eu Fosse Você 2 (dirigido por Daniel Filho e recordista de bilheteria da chamada era da retomada com 5.324.387 milhões de espectadores) é um sucesso. Você é a favor de filmes populares?

Padilha - Não acho que um filme comercial e um filme engajado socialmente sejam coisas excludentes. Dá para fazer as duas coisas e eu tento fazer isso o máximo que posso. Às vezes não dá. Nunca imaginei que Tropa de Elite fosse ser um sucesso comercial. Fiz o melhor filme que eu podia fazer. As músicas que usei foram as músicas que os policiais ouviam na época. Filmei com a câmera na mão, porque eu gosto. Narrei do ponto de vista do policial violento, assim como eu narrei Ônibus 174 do ponto de vista do menino de rua que se comportou de maneira estupidamente violenta dentro de um ônibus. Eu gosto de narrar todos os meus filmes do ponto de vista da pessoa que está dentro da história.
Com a Lei do Audiovisual, a Ancine procurou levantar a indústria do Audiovisual. O que falta para isso acontecer?

Padilha - O cinema no mundo inteiro é subvencionado estatalmente - a não ser pelos Estados Unidos e pela Índia, mas mesmo assim vai começar a ter subvenção nos EUA. Então, o cinema funciona em algumas economias que têm certo porte para fazer cinema. Mas acho que há um erro aí na estruturação comercial do cinema brasileiro. As distribuidoras operam no Brasil no mesmo molde que operam no mercado americano e esse formato é antieconômico, ele não funciona no ambiente brasileiro. As distribuidoras nos Estados Unidos entram com o dinheiro inteiro do filme, que podem às vezes custar US$ 70, US$ 80 milhões, e negociam seus contatos com as produtoras com base nessa realidade. No Brasil, as produtoras colocam uma fração do dinheiro do filme para lançar, em comparação ao orçamento do filme. E, no entanto, a posição comercial é a mesma que têm nos EUA. Está errado. A gente não podia fazer cinema adotando os modelos contratuais americanos no ambiente do Brasil onde a correlação de forças é totalmente diferente. Eu e meu sócio achamos um modelo diferente e vamos lançar dois ou três filmes para ver como vai funcionar.

E como é esse modelo?

Padilha - É mudar um pouco a correlação de forças entre distribuidor e produtor. Quero ter uma experiência prática pra depois listar e explicar como funciona. Eu acho que tem uma maneira de viabilizar o cinema brasileiro economicamente. Eu era cético com relação a isso, mas acho que é possível, pelo menos para uma certa categoria de filmes.


vermelho.org

terça-feira, 14 de abril de 2009

A economia, o ambiente e os limites do crescimento

Por Maurício Novaes Souza (*)


Em todo o mundo, desde o segundo semestre do ano anterior, a preocupação está voltada para a crise financeira americana, que trouxe reflexos na economia de todos os países do Planeta. Contudo, a questão ambiental, que deveria ser a prioridade posto ser a fonte de todos os recursos utilizados nos processos produtivos, vem sendo relegada ao segundo plano. Na prática, o antigo discurso da necessidade de crescimento econômico para a geração de emprego e renda acaba prevalecendo. Ou seja, continua vigorando a visão imediatista, de curtíssimo prazo, cujos resultados finais são conhecidos e previsíveis. De fato, a economia global está perdendo mais dinheiro com a destruição dos recursos naturais do que com a atual crise financeira global, segundo conclusões de um estudo financiado pela União Européia.





Segundo dados dessa pesquisa, intitulada "A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade", calcula-se que os desperdícios anuais, apenas com o desmatamento, variam de US$ 2 trilhões a US$ 5 trilhões. O número inclui o valor de vários serviços oferecidos pelas florestas, como água limpa e a absorção do dióxido de carbono. O estudo foi discutido durante várias sessões do Congresso Mundial de Conservação, realizado em Barcelona.. De acordo com o coordenador do relatório, Pava Sukhdev, o custo resultante da degradação da natureza ultrapassa o dos mercados financeiros globais. Cabe ainda uma consideração sobre os custos ambientais: pelo fato de serem contínuos, seus reflexos no longo prazo serão ainda maiores e de difícil quantificação.

Na verdade, os economistas desconhecem ou simplesmente desconsideram os serviços ambientais prestados pela natureza. Tais serviços ou funções, como o armazenamento de água e a regulação do ciclo de carbono, entre outros, cria condição para um meio ambiente saudável, oferecendo não só água e ar limpos, chuvas, produtividade oceânica, solo fértil e elasticidade das bacias fluviais, como também certas funções menos valorizadas, mas imprescindíveis para a manutenção da sustentabilidade, tais como: a) o processamento de resíduos (naturais e industriais); b) a proteção contra os extremos do clima; e c) a regeneração atmosférica. Por estas questões, o homem em suas atividades produtivas deve sempre considerar que os ecossistemas são sistemas abertos e integrados por todos os organismos vivos, inclusive ele próprio, e os elementos não viventes de um setor ambiental definido no tempo e no espaço, cujas propriedades globais de funcionamento (fluxo de energia e ciclagem da matéria) e auto-regulação (controle) derivam das relações entre todos os seus componentes, tanto pertencentes aos sistemas naturais, quanto aos criados ou modificados pelo Homem.

De fato, o desconhecimento dos profissionais da área econômica sobre conceitos básicos de ecologia e de economia dos recursos naturais e renováveis, os impedem de perceber que existem limites ao crescimento. Sabe-se que qualquer atividade antrópica é capaz de gerar algum tipo de impacto. O homem, na ânsia de sucesso e maximização de suas atividades, força o ambiente a realizar um esforço amplificador a fim de produzir um determinado resultado desejado; contudo, os ecossistemas têm sua capacidade de suporte e de regeneração que dependerá da sua resistência e da sua resiliência. Ocorrido um estresse, caso seja ultrapassado o seu limite, podem-se criar efeitos secundários que acabam reduzindo o ritmo e as chances de sucesso que uma determinada atividade vinha alcançando. Como consequência, ocorre que depois de uma expansão inicial, o crescimento se torna uniforme e com o tempo pode ficar tão lento que a espiral de reforço pode se inverter. Percebe-se então, que o importante é não forçar o crescimento, mas sim conhecer o ambiente e conviver dentro da possibilidade e dos fatores que o limitam.

Contudo, não é assim que o modelo de desenvolvimento vem se comportando. É comum se observar que no início das atividades os eventos vão bem. Dessa forma, a tendência do modelo atual é repetir o que estamos fazendo até atingirmos um ponto onde os resultados positivos cessam. Nesse ponto, as tentativas de mudança se tornam inúteis. Nessas situações que limitam o crescimento, a alternativa correta está em se buscar uma situação que trouxesse novo equilíbrio e não estimular a situação que gerou a condição de estresse. Dessa forma, para modificar o comportamento do sistema, é necessário identificar e alterar o fator limitante. No entanto, essa é uma ação contínua, pois quando eliminamos uma fonte de limitação, o crescimento acaba encontrando outra (num fenômeno parecido com a transferência de "gargalos").

Considere-se a situação dos ecossistemas aquáticos. Como em todo o ano, no dia 22 de março se comemorou o "Dia Mundial da Água". Como se pergunta a todo ano, existe motivo real para comemoração? De fato, a qualidade das águas de praticamente todos os rios do Brasil, e de todo o mundo, piorou nos últimos anos. Esse fato, que é o resultado do modelo de desenvolvimento atual e que afeta drasticamente as populações, foi um dos temas discutidos no recente Fórum Social, em Belém. Nesse encontro se estabeleceram metas para a elaboração de um novo modelo de desenvolvimento e crescimento econômico. Também, no mês de março, aconteceu em Istambul, na Turquia, o V Fórum Mundial da Água, com a pretensão de apresentar respostas para escassez do recurso provocada pelo crescimento da população, o desperdício, o consumo excessivo e o aumento da necessidade de energia.

Tal encontro reuniu um número de participantes jamais vistos - 28.000 (vinte e oito mil) pessoas de mais de 180 (cento e oitenta) países. O Fórum analisou os problemas da escassez de água, o risco de conflito por enfrentamentos entre países por recursos hídricos e a melhor maneira de proporcionar água limpa à população mundial. Segundo Loïc Fauchon, presidente do Conselho Mundial da Água, o comportamento humano com relação ao uso deste recurso é cada vez mais irrefletido e inconsequente. Aumentar indefinidamente a demanda por água, nos diais atuais, além de colocar em perigo o meio natural, torna-se cada vez mais caro o seu tratamento e distribuição em um contexto de evolução do clima e crise financeira.

Tal análise se justifica pelo fato de que a economia e o meio ambiente estão passando por uma crise sem precedentes. Para agravar ainda mais a situação, a atual crise econômica mundial tem trazido como solução, por parte dos principais economistas e governantes mundiais, o estímulo ao consumo - situação ainda mais ameaçadora às atuais situações ambientais. Esse modelo visa, efetivamente, a geração de lucros imediatos, não considerando os limites do crescimento; portanto, socialmente e ambientalmente não é sustentável. Do ponto de vista social, é sabido que os 20% (vinte por cento) da população mais rica utilizam ¾ dos recursos naturais, trazendo o esgotamento e, ou, a degradação dos recursos naturais. Do ponto de vista ambiental, considerando a Pegada ecológica (índice que expressa a área produtiva necessária para sustentar o consumo de recursos e assimilação de resíduos de uma dada população) mostra que há 1,8 hectare de área disponível para cada habitante, dentro do padrão que se pode considerar sustentável. No entanto, o consumo global atual apresenta uma média de consumo relativo a 2,2 hectares por habitante. Ou seja, o ambiente está sendo usado além de sua capacidade de suporte e de reposição.

Analisando os EUA, verifica-se que o seu padrão de consumo é de 9,6 hectares por habitante, sendo que sua capacidade é de apenas 4,7 hectares por habitante. Pergunta-se, então, de onde eles retiram esses recursos para manter consumo tão elevado? A resposta está na exploração de outros países que tem uma capacidade produtiva de recursos naturais superior, como o Brasil. Se todos os habitantes tivessem o mesmo padrão de consumo dos EUA, seriam necessários 6 planetas iguais a Terra para atender à tal demanda... e continuam estimulando o consumo como forma de saírem da atual crise financeira. A continuar dessa forma, as gerações futuras não terão onde e nem como produzir para se sustentarem.

Estas foram as questões que estimularam no mês de fevereiro passado representantes de 160 países se encontrarem em Belém do Pará, para avaliarem os grandes problemas ambientais e sociais durante o Fórum Social Mundial. Foram discutidos temas associados à crise financeira, ao aquecimento global, às doenças associadas à ausência de saneamento ambiental, entre outras. Esses encontros representam o início da mobilização da população mundial, embora saibamos que ainda há muito que se fazer. O Tratado de Quito é um exemplo da inconsequente irresponsabilidade dos países que têm elevada produção e liberação de gases poluentes e de efeito estufa, que não o ratificam e não o adotam.

Na verdade, o modelo de produção e consumo são os responsáveis pelas agressões cometidas sobre os diversos ecossistemas, responsáveis pela evolução do clima, que vem se somar às mudanças globais, responsáveis das tensões que reduzem a disponibilidade da água doce, indispensáveis para a sobrevivência da humanidade. A previsão é de que a população mundial, atualmente superior a 6,7 bilhões de habitantes, possa chegar a nove bilhões até meados deste século, o que aumentará consideravelmente a demanda de recursos hídricos, a 64 bilhões de metros cúbicos por ano, segundo dados da ONU.

Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), o número de pessoas com graves problemas para conseguir água chegará a 3,9 bilhões em 2030, ou seja, metade da população mundial. Os cálculos da OCDE não incluem o impacto da mudança climática, que pode já estar afetando as coordenadas da água, mudando a quantidade e a distribuição das chuvas e nevascas. Considere-se ainda que quase 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso ao saneamento básico, o que contraria as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU. Sabe-se que as principais causas da crise relacionada à água são a irrigação sem planos de manejo, as falhas na distribuição urbana e a contaminação dos rios pelas atividades urbano-industriais e agropecuárias.

Essa semana, no dia 07 de abril, será comemorado o Dia Mundial da Saúde. Tal data foi criada em 1948 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em função da preocupação de seus integrantes em manter o bom estado de saúde das pessoas do mundo, bem como alertar sobre os principais problemas que podem atingir a população. Segundo a OMS, ter saúde é garantir a condição de bem-estar das pessoas, envolvendo os aspectos físicos, mentais e sociais em harmonia. Sabe-se que a alimentação e saneamento são formas de prevenir doenças. Contudo, nos dias atuais, percebe-se que o crescimento urbano e industrial nem sempre significa desenvolvimento humano: particularmente nos países em industrialização, vem acompanhado de desigualdade de acesso aos itens básicos necessários a uma sobrevivência digna, tais como à educação, à alimentação e à saúde. A falta do saneamento nas cidades, em níveis mínimos que assegurem o bem-estar das populações, tem gerado um quadro de degradação do meio ambiente urbano sem precedentes, sendo os recursos hídricos um dos primeiros elementos integrantes da base de recursos naturais a sofrer tais efeitos. Infelizmente, o que se observa nas periferias das grandes cidades é uma total desinformação sobre higiene, aumento das doenças veiculadas pela água, lixões a céu aberto, entre outros. Os governos ainda não vêm realizando um trabalho preventivo, o que melhoraria a saúde da população e diminuiriam os gastos com a saúde pública.

Como consequência desse modelo econômico, o mundo está enfrentando intensas transformações globais, sem precedentes, incluindo aumento da população, migração, urbanização, mudanças climáticas, desertificação, seca, alteração do uso e degradação do solo, crises econômicas e alimentares. Caso continuemos a agir dessa forma, não respeitando os limites do crescimento, pouco restará para as gerações futuras. Como bem lembra Leonardo Boff, caso não se cuide do planeta a partir de uma visão sistêmica e holística, poderá submetê-lo à destruição de suas partes e inviabilizar a própria vida. Há inúmeras evidências que existem limites para o crescimento econômico, considerando que os recursos naturais são escassos.

Apesar das inúmeras iniciativas governamentais e organizacionais, os efeitos efetivos ainda são discretos. Deve-se refletir sobre a necessidade urgente de abandono às concepções anacrônicas ligadas à produção e ao consumo, adotando a sustentabilidade sócio-ambiental nas ações públicas e privadas, em todos os níveis, do local ao global. É preciso que sejam conhecidos e respeitados os limites do crescimento.. Essas deverão ser as propostas de um novo modelo guiado pelos princípios do "Desenvolvimento Sustentável". Contudo, o seu sucesso dependerá da participação e esforço de cada um dos habitantes de nosso planeta, posto que o somatório das atitudes individuais trará soluções sustentáveis para os problemas relativos às questões sociais e ambientais.


(*) Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). É professor do IFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente, EAD em Gestão Ambiental e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É conselheiro do COPAM - Zona da Mata, MG, do IBAMA e Diretor pro tempore do IFET - ARAÇUAÍ.

Adital

Brasil é penúltimo na América Latina em ranking de participação feminina na política

Entre os países da América do Sul, o Brasil é o penúltimo colocado no ranking que mede a participação feminina nas câmaras federais. Apenas 9% dos parlamentares são mulheres. Atrás do Brasil, a Colômbia ficou com a última posição, com menos de 8,5%. A Argentina é o país que lidera o levantamento, com 40% dos assentos nas câmaras ocupados por mulheres. Os números fazem parte de um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU).


A deputada estadual Helena Barros Heluy (PT/MA) lamenta o resultado da pesquisa. Segundo ela, as mulheres enfrentam uma dificuldade histórica para assumirem cargos de poder:


“A história e as leis foram perversas com relação à mulher. Por isso que agora no terceiro milênio, século XXI, a mulher ainda não se encontra como deveria e poderia estar. Isto é, ocupando os espaços, sobretudo, de tomada de decisão.”


Na Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão, dos 42 parlamentares, apenas sete são mulheres. A deputada Helena ainda ressaltou a importância da participação da mulher na política para a construção de uma sociedade mais democrática:


“Dentro da questão de construir-se um país republicado, democrático, temos que caminhar juntos [mulheres e homens]. Ser algo vindo realmente do exercício de direitos, da cidadania.”


No mundo, o país com maior representatividade da mulher na política é a Suécia, com 47%. Depois vem Cuba, com 43% e Finlândia, com 41%.


brasildefato

Lula é o presidente mais popular das Américas, diz pesquisa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece em primeiro lugar na lista de líderes com melhor aprovação da América, com 70% de popularidade, de acordo com um estudo publicado nesta terça-feira na internet pela empresa mexicana Consulta Mitofsky.

O relatório, correspondente a abril, indica que pouco atrás de Lula está o governante colombiano, Álvaro Uribe, com 69%, seguido pelo mexicano Felipe Calderón, com 68%, e pelo salvadorenho Elías Antonio Saca, com 66%.

Em um segundo bloco aparecem os presidentes de Estados Unidos, Barack Obama, com 61%; Equador, Rafael Correa, e Paraguai, Fernando Lugo, com 60%; Chile, Michelle Bachelet, com 59%; e Bolívia, Evo Morales, com 58%.

Pouco atrás estão o governante uruguaio, Tabaré Vázquez, com 53%; o costarriquenho Óscar Arias, com 49%; o panamenho Martín Torrijos, com 48%; o guatemalteco Álvaro Colom, com 45%; o dominicano Leonel Fernández e o nicaraguense Daniel Ortega, com 48%; e o peruano Alan García, com 34%.

No fim da lista, estão a argentina Cristina Fernández de Kirchner, com 29%, e o hondurenho Manuel Zelaya, com 25%. A Consulta Mitofsky destacou que a aprovação média dos presidentes americanos em março foi de 52%, só superada pelos resultados de janeiro e maio de 2007, que alcançaram 53% e 54%, respectivamente. No estudo anterior, divulgado em janeiro, Lula, Uribe e Correa dividiam o primeiro lugar, com 70% de aprovação. (EFE - Agência EFE)

Falta assistência para diminuir o problema social do crack no Rio






Diante de uma droga que produz efeitos tão devastadores com tanta rapidez, a solução é urgente. “É um pesadelo que chegou e, se as pessoas não abrirem os olhos, esse pesadelo vai chegar às casas delas também”, conclui Maria Teresa de Aquino.




Reportagem tirada do site do RJTV

Charge


23° banco americano tem falência decretada

O número de bancos americanos com falência decretada chegou a 23 na sexta-feira, com o fechamento do New Frontier Bank, no Colorado (EUA).

No mesmo dia, os órgãos reguladores do país tambéms fecharam o Cape Fear Bank, na Carolina do Norte. Desde agosto do ano passado, 43 bancos já fecharam as portas nos Estados Unidos.

Os reguladores esperam que mais dezenas de bancos americanos venham a falir nos próximos meses.




Destak

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Propostas para uma reforma do sistema financeiro internacional

Na recente reunião de cúpula do G20, em Londres, a Coalizão Global para o Crédito Responsável apresentou uma proposta de mudança no sistema financeiro internacional. Articulação de entidades em defesa de serviços financeiros mais justos e contra o super endividamento dos cidadãos, a Coalizão defende um sistema financeiro coerente com objetivos democráticos, com a estabilidade financeira e a justiça social.



A Coalizão Global para o Crédito Responsável, uma articulação de entidades que defende o acesso a serviços financeiros mais justos, conclamou os líderes do G20, na recente reunião de cúpula realizada em Londres, a criar um sistema financeiro "que valha a pena salvar”. A Debt on our Doorstep (1), com o apoio no Reino Unido dos sindicatos UNITE e PCS, da New Economics Foundation, Church Action on Poverty, a National Housing Federation, o ex-ministro e presidente do Partido Trabalhista, Ian McCartney, da Coligação Européia por Crédito Responsável (2), da U.S National Community Reinvestment Coalition (3), e parceiros em vinte outros países, divulgaram um comunicado defendendo que o G20 se comprometa com reformas profundas no sistema financeiro. Essas organizações apresentaram as seguintes propostas:


1. Concordar em colocar os provedores de serviços financeiros sob um “dever de exercer a responsabilidade no domínio dos serviços financeiros”. Os prestadores de serviços financeiros devem ser obrigados a assinar uma carta de princípios claros de responsabilidade e de transparência e ter mecanismos para garantir que esses princípios orientem o seu comportamento na prática. As políticas de remuneração precisam ser reavaliadas à luz dessa ambição. A responsabilidade deve incluir uma exigência aos provedores de serviços financeiros de considerar adequadamente as necessidades de todos os agregados familiares, incluindo aqueles com baixos rendimentos, na concepção de produtos financeiros.

2. Garantir que o investimento no sistema bancário do contribuinte seja transformado em uma verdadeira ajuda para as pessoas em dificuldades financeiras, ao acordar ações para forçar os mutuários a oferecer reprogramações do débito de famílias em dívida de longo prazo a taxas razoáveis.

3. Comprometer que serão tomadas novas medidas para parar as reapropriações de casas e garantir que os mutuários hipotecários ofereçam preços acessíveis para pessoas em situação líquida negativa, e / ou empréstimos hipotecários em atraso, e trabalhar para a habitação estabilizar os custos a longo prazo através do aumento da oferta de habitação acessível


Ao apresentar essas propostas, o presidente do Debt on our Doorstep, Damon Gibbons, comentou:"Os prestadores de serviços financeiros se envolveram em empréstimos irresponsáveis, tornando as hipotecas de casas cada vez mais vulneráveis aos choques econômicos e sobrecarregaram as pessoas com níveis insustentáveis de endividamento. Pedimos ao G20 um sinal decisivo para romper com a ganância e a irresponsabilidade que causaram a atual crise e tomar medidas para assegurar que o investimento no sistema bancário do contribuinte seja agora usado para criar um sistema que beneficie as pessoas".


Apoiando o trabalho da Coalizão Global, Andy Case, Secretário Nacional da UNITE, o maior sindicato do Reino Unido, com 2 milhões de membros, incluindo 178 mil que trabalham no setor financeiro, disse:

"A situação atual constitui uma oportunidade para se reconstruir um sistema financeiro que suporte uma perspectiva de longo prazo e seja coerente com objetivos democráticos, com a estabilidade financeira e a justiça social."

carta maior

FHC fugiu para Washington para não ter que explicar sua filha fantasma do Senado

Desde que sua filha foi descoberta como funcionária "fantasma" do Senado, FHC estava sumido.

Agora ele reapareceu em Washington, onde ninguém conhece o senador Heráclito Fortes, e não sabe que sua filha Luciana Cardoso, está pendurada naquele gabinete, sem aparecer para bater o ponto.

O ex-presidente que produziu o apagão junto com José Serra, teve a cara-de-pau de criticar o PAC, apostando no quanto pior o Brasil, melhor para José Serra se eleger em 2010.

Invejoso, minimizou e ironizou os elogios de Obama à Lula.

FHC participou do evento "Drogas e Democracia: Rumo a Um Novo Paradigma", tema bem apropriado para quem tem autoridade e conhecimento no assunto, de como uma democracia pode ser uma droga num governo como o dele.

Adivinhem quem se interessou em entrevistar FHC? A CNN? A Fox? Não. Só a imprensa serrista brasileira, segundo testemunhou correspondente da BBC.

amigos do presidente

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Participantes chegam para reunião do G-20 em Londres

Da esquerda para a direita: Lee Myung-Bak (Coréia do Sul), Nicolas Sarkozy (França), Abdullah bin Abdul Aziz al-Saud (Arábia Saudita), Hu Jintao (China), Gordon Brown (Reino Unido), rainha Elizabeth 2ª (Reino Unido), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Susilo Bambang Yudhoyono (Indonésia), Felipe Calderón (México), Cristina Kirchner (Argentina) e Dmitry Medvedev (Rússia). Na segunda fileira, da esquerda para a direita: Kevin Rudd (Austrália), Stephen Harper (Canadá), Angela Merkel (Alemanha), Jose Luis Rodriguez Zapatero (Espanha), Jan Peter Balkenende (Holanda), Kgalema Motlanthe (África do Sul), Barack Obama (EUA), Recep Tayyip Erdogan (Turquia), Manmohan Singh (Índia), Jose Manuel Barroso (UE) e Meles Zenawi (Etiópia). Na terceira fileira, da esquerda para a direita: Dominique Strauss-Kahn (FMI), Ban Ki-moon (ONU), Pascal Lamy (OMC), Abhisit Vejjajiva (Tailândia), Taro Aso (Japão), Silvio Berlusconi (Itália), Mirek Topolanek (República Tcheca), Mario Draghi (BC da Itália) e Robert Zoellick (Banco Mundial) posam no palácio de Buckingham, em Londres


Esperamos que da cabeça desses governantes e autoridades de órgãos internacionais saiam boas alternativas para a atual crise que atravessamos.